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sábado, 19 de dezembro de 2009

Acordo de Copenhague

A expectativa infundada de que a COP-15 resultaria em acordo legalmente vinculante para as partes da Convenção na COP-15, pois os negociadores não tinham mandato negocial para isso, pode impedir que enxerguemos os avanços conquistados. A Conferência reuniu 119 chefes de Estado, incluindo presidentes e primeiros-ministros das maiores economias mundiais, um recorde na história da ONU.

O acordo de Copenhague pode ter decepcionado alguns, mas significa um forte compromisso político dos principais emissores, inclusive dos EUA, de limitar o aumento da temperatura da Terra em até 2ºC e continuar a negociar metas de redução individuais a serem adotadas na COP-16, no México. O fato de os presidentes e primeiros ministros terem passado longas horas negociando pessoalmente os termos do acordo confere carga política vital para a assinatura de compromissos obrigatórios no final de 2010.

A falta de consenso sobre o texto final do acordo impediu que o documento fosse adotado como decisão das Partes da Convenção. As principais vozes discordantes foram Venezuela, Cuba e Tuvalu. O acordo estará aberto para adesões dos países e, desde já, deverá guiar as ações dos países partes que os assinaram, a maioria das Partes da Convenção, entre eles o Brasil.

Em breve postaremos análise mais abrangente dos principais pontos de avanço da COP-15.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A COP-15 ainda não adotou acordo negociado entre principais chefes de Estado

O acordo político alcançado entre EUA e países de economia emergente, negociado a portas fechadas pelos chefes de Estado, deve ser submetido a Plenária da COP ainda na madrugada de hoje. O texto devera ser adotado por consenso dos países, o que significa que o acordo anunciado em coletiva de imprensa por Obama como o resultado de Copenhague poderá ser rejeitado. A COP-15 ainda não acabou e a expectativa é de que ainda haja intensos debates.

Acordo de Copenhague está próximo de ser concluído

Vazou o texto que deve ser assinado logo mais, como resultado da COP-15. A declaração política reconhece a necessidade de a temperatura não exceder a elevação de 2oC. Inclui o REDD entre as ações de mitigação dos países em desenvolvimento. As metas de reduções ainda estão sob negociação. Preve-se a transfêrencia de 30 bilhões de dólares para ações de países não Anexo I e 100 bilhões por ano até 2020. O maior ganho é a previsão de assinatura de instrumentos legais sob a convenção até a COP-16.
Estaremos por aqui acompanhando a adoção da declaração. Fique de olho!

Curtas dinamarquesas por Maria Cristina Frias

Texto publicado no blog "Perca tempo"

FLORESTAS

A expectativa da Fibria (empresa criada com a união de Aracruz Celulose e VCP) na COP-15 era que a preservação das florestas brasileiras ganhasse visibilidade como estratégia para a construção de uma economia de baixo carbono.

CELULOSE

Umberto Cinque, gerente-geral de meio ambiente industrial da Fibria, apresentou durante a conferência experiência sobre as emissões de carbono em toda a cadeia. A certificação mostra o quanto o setor pode ser sustentável, já que o sequestro de carbono das florestas manejadas é maior que as emissões, diz a Fibria.

ESPECIALISTAS

Empresários brasileiros presentes na COP-15 se esforçam para se tornar especialistas em ambiente. Sinal de que o setor privado já entendeu que não terá espaço nos mercados de Europa e EUA, caso não se ajuste à economia de baixo carbono, segundo Daniela Stump, da área de sustentabilidade do Pinheiro Pedro Advogados.

ANO DE DIVULGAÇÃO

Se este ano foi de consciência, 2010 será de divulgação. Empresários devem superar a timidez e participar de fóruns globais, o que difere da organização de evento para plateia brasileira em fórum internacional, como na COP-15, diz Stump.

Amanhã?

Os presidentes terão mais uma reunião à tarde para tentarem fechar um acordo político que destrave as negociações. A conferência promete seguir no sábado.

Na coletiva de imprensa.

Embaixador Figueiredo (centro) e Embaixador Serra (à direita) na coletiva de imprensa esta manhã.

[ Planeta Terra ]

As negociações havidas durante toda a noite resultaram em pouco avanço. Os textos continuam entre colchetes, o que significa falta de consenso entre os negociadores. Temas como metas de redução dos países Anexo I ou comprometimento dos países para se evitar o aumento de temperatura até 2oC, ainda estão inconclusos. A expectativa é que seja alcancado acordo político, e não jurídico, que seja preenchido ao longo das próximas COPs. Nessa altura do campeonato, no último dia da COP-15, o lançamento de mandato político para negociações de novo Protocolo, como o mandato de Berlim, que deu início às discussões que resultaram em Quioto, não será de todo ruim.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Chefes de Estado devem articular no jantar da Rainha

A redação dos textos do AWG-KP e do AWG-LCA, que deverão resultar nos acordos de Copenhague, está a cargo de diversos grupos de contato que trabalharão noite adentro. Há a expectativa que a recepção oferecida hoje à noite pela Rainha da Dinamarca aos chefes de Estado seja oportunidade ideal para soluções dos muitos pontos ainda abertos.

Paradoxo do aquecimento global.

Entrada de Ongs



A entrada de Ongs ao Bella Center foi quase totalmente barrada. Representantes protestam.

Lula faz discurso comportado e sem improvisos

Delegados assistem ao discurso de Lula


O discurso do presidente Lula seguiu o script. Reiterou o posicionamento brasileiro de continuidade do Protocolo de Quioto e avanço das ações de mitigação no âmbito da Convenção, com compromissos de redução ambiciosos para os países desenvolvidos. Defendeu a promoção de transferência de tecnologia e financiamento para que o Brasil possa cumprir suas metas internas de combate ao aquecimento global. Lembrou aos países que as negociações não tratam de jogo, em que os países podem esconder suas cartas. Foi um discurso comportado, que poderia caber aqui, em Bali, ou em Quioto.

Nos bastidores: reação da bancada ambientalista contra aprovação da lei que regulamenta competências em matéria ambiental

Enquanto a bancada ambientalista da Câmara dos Deputados está aqui em Copenhague, foi aprovada a lei complementar que regulamenta as competências dos entes federativos em matéria ambiental, do Deputado Federal Sarney Filho. Os deputados planejam manifesto ao Presidente Lula contra emenda proposta e aprovada ontem que determina que apenas o órgão licenciador tem o poder de fiscalização sobre o empreendimento licenciado.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Debate sobre biocombustíveis no Bella Center


O setor sucro-alcooleiro, mais recentemente auto=denominado ‘sucro-energético’, já aprendeu que não adianta só falar para brasileiro. O presidente da UNICA, Marcos Jank, e o Deputado Federal, Luciano Pizzato, participaram de mesa redonda sobre biocombustíveis, localizada em arena de discussões aberta no centro do Bella Center. Os demais setores precisam tomar coragem e fazer o mesmo, para mostrar ao mundo o que também vêm fazendo pelo clima... ou daqui a pouco, a China será a gigante das energias renováveis, como já começa a se falar na imprensa mundial. Só é lembrado quem aparece!

Entram no campo os chefes de Estado

No final do segundo tempo de jogo, embolou o meio de campo e os textos das negocições foram lançados para os principais atacantes das delegações, os chefes de Estado.

Depois da mudança do texto negociado pela diplomacia dos Estados partes, durante a noite, denunciada pelos países do G-77, os ânimos se acirraram e a conclusão do acordo parece ter ficado mais distante. Apesar dos discursos inflamados e cheios de convicção realizados ao longo da tarde no “segmento de alto nível”, as palavras de esperança ainda não estão no papel... e tudo leva a crer que a Dinamarca, que preside a Conferência está jogando pelos seus próprios interesses, aliada aos países desenvolvidos, que buscam a qualquer custo impor metas de redução igualitárias para os ricos e pobres.
Assinar esse acordo significa jogar fora dois anos de diálogo e rasgar o Protocolo e a Convenção, o que o Brasil, China e Índia não devem aceitar. O México, por sua vez, vem apoiando o grupo dos países desenvolvidos, mais especificamente os EUA, por motivos conhecidos e inconfessáveis.


Pérolas do discurso de Chávez

A COP parou para ver o discurso de Chávez, que citou Leonardo Boff, Eduardo Galeano e Rousseau, para contestar o capitalismo. Veja algumas de suas pérolas:
# Chávez critica o fantasma do capitalismo, que ronda os corredores da COP-15 e diz que se o clima fosse um banco, já estaria salvo.
# Chávez diz que o sistema deve mudar, não o clima.
# Recomenda a leitura de "Como os riscos destróem o planeta", já que 7% da população mundial é responsável por 50% das emissões.
# Chávez critica a falta de democracia na COP-15, referindo-se à não divulgação do texto negociado durante a noite, mas disse que não deveríamos estar supresos, pois não há democracia em lugar nenhum no mundo.
De longe, foi o discurso mais provocativo até o momento.

O clima esquenta na plenária da manhã

Brasil e G-77 reclamam que o texto negociado durante toda a noite não foi divulgado às partes, o que traz insegurança às negociações. Enquanto a Dinamarca diz tratar-se de falha de procedimento, os países em desenvolvimento afirmam que o ato atenta contra a democracia e ameaça as negociações da COP.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pés no chão

Interior do Bella Center

O “Trade and Climate Change Day”, organizado pelo International Centre for Trade and Sustainable Development (ICTSD) reuniu, hoje, os papas do comércio internacional. Entre os participantes que debateram as potenciais interferências das negociações climáticas no cenário do comércio internacional, estava James Bacchus, ex-presidente do Órgão de Apelação da Organização do Comércio Internacional.

Os palestrantes do evento foram unânimes ao afirmarem que os países desenvolvidos, submetidos a metas de redução de emissões, estarão tentados a adotarem medidas de equalização de competitividade entre produtos nacionais e importados. Representante da OMC presente no evento afirmou que causa preocupação a adoção de border tax adjustments, alocações gratuitas de permissões de emissões baseados em critérios pouco transparentes, e a concessão de subsídios a agricultura como forma de compensação de emissões de outros setores.

A conclusão de acordo global que defina os compromissos dos paises membros da Convenção, essencialmente os mesmos da OMC, deverá reduzir a probabilidade de ocorrencua de litígios comerciais. Por precaução, os Países em Desenvolvimento buscam a declaração expressa dos países desenvolvidos de que não serão comercialmente retaliados por medidas unilaterais.


Curtas de hoje.

Fila para entrar no Bella Center. Muitas pessoas e frio.


Panela de pressão

De hoje até sexta-feira, a entrada ao Bella Center será gradualmente limitada para ONGs e imprensa, o que promete confusão. Segundo o que se houve nos corredores, no dia final da Conferência, só será permitido o acesso a 90 representantes de ONGs. Será falta de espaço ou medo da reação da sociedade civil?


Movimento dos Sem Teto de Copenhague (MSTC)

O presidente Lula e a primeira-dama chegam hoje à Copenhague. Dizem nos corredores que, devido à falta de hotel, parte da delegação deixou seus hotéis para dar lugar ao casal e seus assessores...


De brasileiro para brasileiro

Ao longo do dia, na sala da delegação brasileira, aqui na COP-15, acontecem eventos organizados pelo governo e associações de empresas, onde brasileiros falam para brasileiros
.

“Seal the Deal!”

Terminou há pouco a cerimônia que deu inicio ao denominado “segmento de alto nível” da COP-15 e MOP-5, fase final das negociações, da qual participarão mais de cem chefes de Estados. Entre as autoridades presentes, destaco a presença do Secretário Geral da ONU, da Ministra do Meio Ambiente da Dinamarca e do Príncipe Charles, que com discursos alinhados e inflamados, conclamaram os delegados a concluirem o acordo climático. Ban Ki Mon falou no início de uma nova era, enquanto o Príncipe Charles afirmou não haver solução para o clima, que não inclua as florestas, aliada a produção de alimentos. A Ministra dinamarquesa disse que o sucesso da conferência esta sob alcance dos nossos líderes e que deverão assinar o acordo até sexta-feira pois não há outra escolha.

O consenso é possivel, mas nossos representantes deverão trabalhar nos próximos três dias para decidirem a linguagem que satisfaz a todos os 192 paises e o grau de seu comprometimento legal. O mundo está de olho!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Curtas


Agora, já em solos dinamarqueses, seguem primeiras impressões:


O caos impera na COP-15

O enorme número de participantes e a inacreditável falta de planejamento da ONU levaram milhares de delegados e observadores a ficarem do lado de fora do centro de convenções por cerca de sete horas, expostos à chuva e à neve, até conseguirem suas credenciais. Se isso tivesse acontecido no Brasil, seria chamado de coisa de terceiro mundo...


A delegação brasileira é pop

Nossa delegação brasileira conta com alguns ministros, dezenas de governadores, centenas de legisladores e secretários, quase mil assessores e, pasmem, até um ator, o novo climático Victor Fasano.


Ministra Dilma fala sobre o posicionamento do Brasil em Copenhague

O discurso da Ministra Dilma Rousseff, durante evento da COP-15, não empolgou a platéia, composta, em sua quase totalidade, por brasileiros. Em ato falho, envolto em discurso confuso, afirmou que o “o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”... muito coerente com o seu raciocínio, que opõe crescimento à preservação ambiental. Perdeu a oportunidade de alçar o Brasil como líder de processo de desenvolvimento diferenciado, pautado em energias renováveis e valorização dos seus ativos florestais.

Do aproveitável, defendeu a adoção de metas voluntárias de redução de emissões, com base no desvio do business as usual, proposta apresentada aqui em Copenhague e incluída na Política Nacional de Mudança Climática, aprovada recentemente no Senado. E de forma bastante didática, rebateu o discurso europeu do avanço da cana-de-açúcar sobre a Amazônia, dizendo que o maior centro produtor de etanol está tão distante da floresta como Lisboa está de Moscou.

A ministra se esforçou para falar sobre meio ambiente, mas não convenceu...


Hopenhagen

O avião pousa em Copenhague e é inevitável o pensamento que o tempo frio e nublado da cidade não deve entusiasmar as discussões sobre medidas de enfrentamento do aquecimento global. O sentimento de estranhamento quanto à escolha da cidade que sedia a COP-15 é afastado pelo clima quente que envolve os recém-chegados no saguão do aeroporto – mensagens de esperança nos dizem ‘bem-vindos a Hopenhagen’.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Exatamente há um ano.


Texto publicado originalmente na Revista Digital DAZIBAO - 12.dezembro.2008 por Daniela Stump


COP-14, contagem regressiva para Copenhagen

Poznan significou avanço no caminho rumo à Copenhagen. Os representantes dos países partes da Convenção do Clima e do Protocolo de Quioto deixarão a Polônia com um programa de trabalho claro para 2009, saindo do período de proposições e idéias para entrar em negociações intensas sobre as propostas colocada à mesa.

Mesmo Al Gore, que discursou para os delegados no início da tarde de hoje, se mostrou otimista com os resultados da reunião, que possibilitarão o fechamento de novo acordo climático na COP-15. Gore ainda ressaltou o movimento das iniciativas nacionais que estão sendo adotadas independentemente das negociações internacionais, citando, inclusive, o Plano Nacional de Mudanças Climáticas brasileiro, com metas claras para a redução do desmatamento.
Al Gore reiterou os recentes pronunciamentos de Barack Obama sobre a retomada da liderança dos EUA nas negociações climáticas e a intenção de criar sistema de cap-and-trade federal, concluindo seu discurso com o enfático tema da campanha presidencial: “Yes we can”.
É preciso dizer que, se, de um lado, o tema das Reduções de Emissões por Desmatamento em Países em Desenvolvimento (REDD), o Plano de Ação de Bali e a adoção de metas pelos Países Anexo I no segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto estão bem engatados para a COP-15, o Fundo de Adaptação e a Captação e Armazenamento de Carbono (mais conhecido em inglês, Capture and Carbon Storage -CCS) são temas onde ainda haverá queda de braço entre países industrializados e países em desenvolvimento até o o último momento da plenária final, que ainda não tem hora para começar.

Enquanto alguns países defendem a inclusão do CCS como atividade elegível para projetos de MDL, o Brasil afirma não haver ainda soluções técnicas que garantam a segurança do armazenamento de gases de efeito estufa, nem mesmo normas jurídicas que definam responsabilidades por eventual vazamento.
Quanto ao Fundo de Adaptação, os países mais vulneráveis pedem a inclusão de parte de receitas advindas da Implementação conjunta e do Comércio de Emissões, mecanismos de flexibilização para o cumprimento de metas do Protocolo de Quioto, assim como se prevê a contribuição de 2% do valor das RCEs emitidas para projetos de MDL.

As discussões prometem durar até tarde...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

EPA dá sinal verde para o controle das emissões dos gases de efeito estufa nos EUA

O posicionamento da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) de que as emissões de gases de efeito estufa ameaçam a saúde humana, manifestado ontem (08/12/09) pela Administradora Lisa P. Jackson, dá sinal verde para que o órgão ambiental adote medidas de controle das atividades carbono intensivas localizadas no território dos EUA.

A competência da EPA para regulamentar o tema está baseada em decisão da Suprema Corte Americana, proferida em 2007, que classifica os gases que intensificam o aquecimento global como “poluentes” nos termos definidos pelo Clean Air Act. Dessa forma, o controle de emissões passa ao largo do Senado dos EUA, onde tramita projeto de lei para a instituição de uma política de energia limpa, sem data para conclusão devido à forte pressão da bancada do petróleo.

Os EUA reforçam alteração da posição marcada no Governo Bush, nutrindo expectativas de que se alinhem com o regime multilateral internacional de proteção ao sistema climático ao final da COP-15.

Confira as conclusões da EPA sobre o assunto em
http://www.epa.gov/climatechange/endangerment.html.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

As mudanças climáticas e as barreiras comerciais

Por Rabih A. Nasser e Daniela Stump, publicado no Jornal Valor Econômico, em 03/12/09

O debate sobre mudanças climáticas e as medidas para lidar com elas trazem consigo inevitáveis repercussões no comércio internacional. A adoção unilateral de compromissos de redução de emissões de gases efeito estufa se faz em geral acompanhar de medidas comerciais de equalização das condições de concorrência entre produtos importados e nacionais. No entanto, essas medidas podem adquirir um caráter protecionista e se contrapor às normas da Organização Mundial do Comércio (OMC). A melhor forma de lidar com esse potencial conflito de normas é fortalecer o regime internacional de proteção ao clima pela via multilateral.

Ao final da 13ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-13), realizada em Bali, em 2007, os países signatários da convenção comprometeram-se a iniciar esforços adicionais para a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.

O Plano de Ação de Bali caminhou paralelamente às negociações sobre o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto (após 31/12/2012), que traz metas de redução de emissões para os países desenvolvidos, com exceção dos EUA, que não ratificaram o acordo.

A 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (COP-15) e a 5ª Reunião das Partes do Protocolo de Quioto (MOP-5), que ocorrerão em Copenhague a partir do próximo dia 07 de dezembro, devem fechar essa rodada de negociações iniciada em 2007.

Ao longo da construção do regime internacional de proteção ao sistema climático, agrupamentos regionais, governos nacionais e locais passaram a regular a temática ambiental nas suas legislações, refletindo, de um lado, a preocupação com o aquecimento global e, de outro, a necessidade de marcarem suas posições.

Em 2003, a União Européia instituiu o Esquema Europeu de Emissões para auxiliar seus países membros a alcançarem as metas de redução de emissões estabelecidas no Protocolo de Quioto – média de 8% em relação ao ano-base de 1990. No início de 2009, a União Européia deu um passo além do consenso global e fixou unilateralmente meta de redução de 20% em relação aos níveis de 1990, até 2020, e de 60-80%, até 2050.

Nos Estados Unidos, tramita no Congresso o projeto de lei Waxman-Markey, que pretende instituir uma política nacional de segurança energética e energia limpa. A proposta prevê metas de redução de emissões de gases de efeito estufa de 17% em relação a 2005, até 2020, e 83% em relação ao mesmo ano base, até 2050. O projeto propõe a criação de um sistema de cap-and-trade federal, ou seja, a imposição de limites de emissões e a instituição de mercado de comercialização de créditos gerados a partir dos excedentes de redução.

Ao adotar essas regras, os países desenvolvidos se sentem tentados a impor medidas de correção dos preços dos produtos importados ou de adaptação a padrões ambientais mais rígidos. Entre essas medidas estão os chamados border tax adjustments, que nada mais são do que sobretaxas aplicadas aos produtos importados não sujeitos às mesmas restrições ambientais em seus países de origem.

Medidas comerciais desse tipo tendem a ser especialmente prejudiciais para os países em desenvolvimento. Primeiro porque suas empresas enfrentarão maiores dificuldades para exportar. Segundo porque, para manter a competitividade exportadora, essas empresas serão forçadas a adaptar seu processo produtivo, sem contar com os mesmos incentivos e instrumentos disponibilizados pelos países ricos.

Os efeitos das políticas ambientais unilateralmente adotadas já começam a aparecer. O Esquema Europeu de Emissões prevê que, a partir de 2013, qualquer vôo que decole da Europa ou pouse naquele território deverá cumprir suas regras internas de redução de emissões. Além disso, a Diretiva Européia que visa promover a utilização de energia proveniente de fontes renováveis estabelece que considerações de ordem ambiental, social e econômica influirão nas medidas relativas à importação de biocombustíveis. Nos EUA, o projeto de lei Waxman-Markey já prevê imposição de tarifas a produtos importados ou a exigência de que esses bens se sujeitem ao sistema de cap-and-trade.

Apesar da tentativa de legitimá-las com argumentos ambientais, essas medidas podem adquirir contornos protecionistas e ser contestadas à luz dos acordos da OMC. Entre as regras comerciais potencialmente violadas estão as proibições de produtos estrangeiros serem tributados em excesso à tarifa de importação consolidada no âmbito da OMC ou de serem onerados com taxas, tributos ou exigências internas às quais os produtos nacionais não estão sujeitos. Além disso, a possibilidade de adoção de medidas necessárias à proteção da vida humana, da fauna e da flora e à conservação de recursos naturais, prevista no art. XX do GATT, está condicionada a que não constituam “restrições disfarçadas ao comércio internacional”.

Ressalva semelhante é estabelecida pela própria Convenção do Clima, que determina que as medidas de combate a mudança do clima não devem constituir meio de discriminação arbitrária ou injustificável ou restrição velada ao comércio internacional.

Além de contrariar princípios fundamentais dos regimes regulatórios tanto do comércio quanto da proteção ao clima, a adoção de medidas protecionistas em legislações ambientais desconsidera as maiores dificuldades de adaptação dos países em desenvolvimento a padrões ambientais mais rígidos.

Nesse cenário, ganha relevo a busca por um acordo em Copenhague. A falta de um consenso global sobre o nível de comprometimento de cada país com a redução de emissões, além de não ajudar no avanço da causa ambiental, aumenta a probabilidade de disputas na OMC quanto à compatibilidade com as regras multilaterais do comércio de certas medidas comerciais inseridas nas legislações nacionais ou regionais sobre mudanças climáticas. Cabe aos líderes mundiais evitar um desfecho como esse.

Efeito Copenhague

A menos de um mês da realização da 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-15) e da 5ª Reunião das Partes do Protocolo de Quioto (COP-5), Estados Unidos, China e outros líderes globais chegaram a anunciar o adiamento da conclusão de novo acordo climático. O que estava escrito nas entrelinhas, hoje está escancarado: os EUA não devem se comprometer com qualquer meta de redução de emissões sem que antes Obama arrumasse sua casa. Apesar do enorme ceticismo que paira sobre a COP-15, o efeito Copenhague já pode ser sentido aqui no Brasil.

O Governo Federal anunciou “metas voluntárias” de 38,9% de redução de emissões dos gases de efeito estufa com relação ao cenário de “business as usual” de 2020, ou seja, caso nenhuma ação de mitigação fosse adotada. O Estado de São Paulo impôs metas mandatórias de redução de 20% em comparação ao ano-base de 2005, com abrangência sobre todos os setores da economia. O Município de São Paulo foi mais ambicioso, ao estabelecer metas de redução de 30% das emissões havidas em 2005, até, pasmem, 2012!

As recentes mudanças regulatórias deverão se tornar palatáveis no momento da renovação de licenças ambientais de operação, obtenção de licença prévia para instalação de empreendimentos intensivos em carbono e, antes de tudo, com a recomendável realização de inventário corporativo de emissões, para conhecimento das vulnerabilidades do processo produtivo nessa área.

O cenário normativo esquizofrênico se faz sentir não apenas no Brasil. Talvez grande parte dos empresários ainda não tenha se dado conta que a União Européia, aos poucos, vem terceirizando sua meta interna de redução de 20% dos gases de efeito estufa, até 2020. O setor de aviação foi o primeiro escolhido: a partir de 2013, qualquer vôo que parta ou pouse no território europeu deverá estar coberto por permissões de emissões transacionáveis no esquema europeu de comércio de emissões.

Mas não é só a Europa que visa externalizar suas políticas ambientais. O projeto de lei para instituição de nova política energética estadunidense, já aprovado na Casa dos Representantes e em trâmite no Senado, autoriza, a partir de 2017, a tarifação de produtos importados pelos EUA, não submetidos a restrições de emissões de carbono em seu país de origem, visando corrigir “dumping ambiental”.

Embora a multiplicidade de iniciativas seja positiva para o alcance da estabilização do clima do planeta, a heterogeneidade de políticas governamentais nacionais e locais pode trazer interferências no campo dos investimentos em setores produtivos e no comércio internacional. O alcance de consenso global sobre o grau de comprometimento dos Estados Nacionais e sua regulamentação harmônica pelos governos locais poderia poupar no futuro muita energia com disputas comerciais e fuga de investimentos diretos para “paraísos carbono intensivos”.

É certo que, independentemente da efetividade ou não do encontro, o planejamento empresarial deverá passar pela avaliação dessa rede de normas internacionais, nacionais e locais, que poderá impactar os negócios e gerar perda de competitividade, caso as empresas não estejam preparadas para o mergulho definitivo em uma economia de baixo carbono.
Daniela Stump

terça-feira, 24 de novembro de 2009

COP-15: entenda o que está em jogo

Ao final da COP-13, os Estados partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) adotaram o Plano de Ação de Bali, objetivando implementar esforços adicionais para a estabilização da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e trazer para a mesa de negociações os EUA – um dos principais emissores atuais, porém não comprometido com metas de redução de emissões.

Em Bali, as Partes da UNFCCC decidiram alcançar em Copenhague consenso sobre cinco tópicos fundamentais para a construção de um novo regime climático: (i) visão compartilhada sobre o objetivo a longo prazo que pretendem alcançar; (ii) mitigação do aquecimento global, por meio de compromissos quantificados para países desenvolvidos e ações nacionalmente apropriadas de mitigação (NAMAs) para os países em desenvolvimento; (iii) adaptação aos impactos inevitáveis da elevação da temperatura média global; (iv) desenvolvimento e transferência de tecnologia para mitigação e adaptação; e (v) financiamento e investimentos para a adoção das ações necessárias.

Em paralelo às negociações do futuro da Convenção, as partes do Protocolo de Quioto devem decidir as regras para o segundo período de compromisso, pós-2012. Ao contrário do que se tem divulgado, o Protocolo de Quioto não expirará em 2012 e, portanto, não será necessariamente substituído por novo acordo. Contudo, para que o Protocolo continue efetivo, é preciso que as partes acordem sobre novas metas de redução para os países desenvolvidos, incluídos no Anexo I da Convenção.

Outro ponto importante na pauta da COP-15, principalmente para os países tropicais, diz respeito ao papel da floresta para a redução de emissões de gases de efeito estufa. O estabelecimento das regras que devem reger o REDD – mecanismo de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal – poderá trazer benefícios para o Brasil.
Acompanhe os avanços das negociações dia-a-dia por aqui e pelo nosso twitter!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

PPA presente na COP 15


Seja bem vindo(a)!

Por meio deste recém criado canal, você poderá se informar todos os dias sobre o que está ocorrendo no encontro em Copenhague. Divulgarei notícias, fotos e comentários a cada dia. Participe! O blog é um ponto de encontro para debates e trocas de opiniões.

Agradeço sua visita e até muito em breve!

Daniela Stump